Wild is the wind


Allindemagle (Ringsted, Dinamarca), Agosto de 2007

Não, não vou recordar nenhuma canção do David Bowie, que é artista que já por aqui passou várias vezes (assim que me lembre, uma, duas, três... é paixão de adolescência, daquelas que duram). Não, vou apenas falar de outra paixão minha, que dura sem que ultimamente se tenha deixado ver.
Então, o vento já não sopra? Já não olho para cima? O que é que aconteceu à minha colecção de cataventos? Pois, aconteceu a Dinamarca.
A ver se me explico:
Como eu disse há tempos, "quando comecei a interessar-me por cataventos, fiz uma pequena pesquisa na Internet e lembro-me de ter lido, não sei já onde, que a Alemanha e a Dinamarca os tinham muito bonitos. Incrédula, fui rever os meus álbuns de fotos e lá estavam eles, a espreitar timidamente por cima de um qualquer motivo que então me parecera mais importante". Na altura, fiz um pequeno apanhado dessas imagens, pelo menos das que consegui aproveitar, distantes e desfocadas, um pálido retrato da realidade. Mostrei aqui os exemplares alemães e planeava organizar os dinamarqueses, mas as imagens eram tão más que não conseguia decidir-me, e o tempo foi passando.
O Vítor arranjou-me este, de Troense, e os dois de Valdemars Slot:






Ilha de Tåsinge (Svendborg, Dinamarca), Dezembro de 2012
(fotos de VSL)


E também respondeu ao repto que lhe lancei aqui e foi à caça deste:


Svendborg (Dinamarca), Março de 2012 (foto de VSL)

Lindos, que são, ainda por aqui não tinham passado, porque eu não tinha desistido do meu propósito de os organizar todos.
Entretanto, fui divulgando os que me iam cruzando a lente, Portugal afora, Espanha, Itália. E foi então que rumei novamente ao Norte.
Ia contente, olá se ia, a pensar em rever com olhos de ver os que me tinham passado despercebidos à primeira. Imaginava mentalmente percursos em Copenhaga, para apanhar de uma só vez os que me tinham escapado em palácios e igrejas. E este, que havia de reencontrar a caminho de Christiania:


Copenhaga (Dinamarca), Agosto de 2007

Atravessei a fronteira já de máquina em punho, a olhar à volta, a encontrá-los por todo o lado, a apanhá-los, com a alegria de uma menina que colhe borboletas numa rede. Saiu-me, nesse primeiro dia, o desabafo que a Dinamarca é o paraíso dos coleccionadores. Fui dormir feliz, a imaginar o que encontraria no dia seguinte. E encontrei. E no outro, também. E no outro. E no outro...
Por alguma razão, a Dinamarca é um dos maiores produtores mundiais de energia eólica e o que mais depende dessa forma de energia para abastecer a sua rede eléctrica (Portugal vem logo a seguir, que o digam as paisagens enfeitadas pelas ventoinhas, que até já chegaram à Serra de São Mamede). É um país bem ventoso, podemos dizê-lo.
Enfim, foram três semanas a encontrar cataventos, em todo o lado, de todas as formas e feitios. Houve os que fotografei nos passeios a pé, os que capturei pela janela do carro, os que me obrigaram a desmontar, para apanhar um, que nunca era um, porque, ao longo da estrada, os havia casa sim, casa não. E era eu a andar a pé e o carro a acompanhar-me ao lado. A certa altura, quando vislumbrava um, fechava os olhos e fingia que dormia. Mas os acompanhantes gritavam: "Olha aquele! Vai lá, vai fotografá-lo!" E eu, que não era preciso, que era igualzinho a outros que eu já tinha, que estava calor, que estava a chover, que a luz não era boa, que o ângulo era mau... De pouco servia. O mais engraçado é que os amigos dinamarqueses, que de tanta familiaridade com os ditos nunca lhes tinham ligado nenhuma, nem percebiam a minha fixação, de repente começaram a interessar-se também. A Ulla, por exemplo, tornou-se uma verdadeira entusiasta da causa!
Na prática, acabei as férias com centenas de fotos de cataventos. Tantas que bloqueei, sem saber o que fazer com elas: organizá-las por localização, por temas,...? Enquanto ia pensando nisso, fui mantendo os olhos baixos, para não me deixar tentar mais. E foi então que, nos chãos dinamarqueses, encontrei novo motivo coleccionável. Sou incorrigível, eu sei.
E sei outra coisa: a Dinamarca é país do demo, aquilo não é o paraíso dos coleccionadores, é antes um inferno. E de proporções dantescas!

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