A montanha

Foi assim a minha primeira experiência alpina, como num velho livro de infância, no Inverno passado, nos Alpes suíços (Les Diablerets).



A manga curta e a mini-saia foram prudentemente substituídas por uma indumentária lunar, mais compatível com temperaturas máximas de 0ºC.
Os passeios na neve revestiam-se sempre dos cuidados de quem não quer escorregar no gelo. Os campos cobertos de neve branca e fofinha eram bem mais apetecíveis do que os caminhos já muito calcados, sujos e gelados. Ainda me aventurei uma vez (ó laró laró pipu), até dar por mim atolada, com neve até às virilhas, sem saber muito bem como sair dali. Acabaram-se os lirismos de Heidi e passei a andar por caminhos seguros, sempre atenta ao gelo.
A paisagem era assim mesmo: as montanhas, os pinheiros, as casas de madeira, os telhados cobertos por uns 50 cm de neve, que tinham de ser cortados a serrote, em cubos que depois eram atirados para o chão.



As pistas também eram assim mesmo: os esquiadores, o equipamento (apenas mais moderno), o tele-ski. Eu, pouco dada a aventuras radicais, era mais como a mocinha da camisola lilás, à direita, com os esquis em cunha (chasse-neige), que o melhor que aprendi foi a travar. Bom, melhor foi mesmo ter aprendido a levantar-me sozinha, depois das muitas quedas, que, não sendo tão aparatosas como a do menino bola-de-neve, foram bem mais divertidas.
Adorei a pista de trenó (luge): 7 Km, pela montanha abaixo, a comer neve por todo o lado.



A região é pródiga em meios mecânicos: teleféricos, tele-cabines, tele-cadeiras, tele-skis. Utilizei-os o mais que pude. De teleférico, fui até ao glaciar dos Diablerets, a cerca de 3000 metros de altitude (Glacier 3000). Uma vista fabulosa!
Foi assim a minha primeira experiência alpina. A próxima, logo se vê.



Ilustrações de Alain Grée, para Alain Grée, La montagne, Casterman, col. Achille et Bergamote, 1966
(versão portuguesa de Maria Adozinda, A montanha, Lisboa: Verbo Infantil, s/d, pp. 10, 18-19, capa, 28).

InterRail 2005 (V)

O Pedro, depois de acabar o curso, deu asas ao seu espírito aventureiro e embarcou numa experiência Comenius que o levou à Noruega, onde se encontra a trabalhar desde Setembro. Mas não se esqueceu de nós, e enviou agora a continuação das suas aventuras no InterRail de 2005, com «snowy regards from Trondheim». Uma delícia, estas crónicas do Pedro, e uma excelente prenda natalícia! Muito obrigada e um grande abraço, deste ameno país que o frio já colocou em alerta amarelo, mas sem perspectivas de um Natal branco.
Não parece, mas estou a viajar de comboio... O local, algures no Báltico, no estreito que separa a Dinamarca do sul da Suécia. O barco está adaptado para receber comboios no porão, pois não existe linha férrea entre as duas margens.
Os dois dias seguintes foram essencialmente a fazer quilómetros e a subir no mapa tanto quanto possível, para depois fazer o trajecto inverso, escolhendo, então, algumas cidades para visitar com mais minúcia.
Deambulei algumas horas por Gotemburgo, cidade que conhecera no ano anterior, mais para recordar sítios e monumentos familiares, do que para fazer visitas mais detalhadas, pois o tempo não era muito. Ao final da noite, embarquei então no comboio da noite e iniciei mais uma viagem do imaginário. Já o referi, mas nunca é de mais referir, os comboios são dos melhores da Europa e dá para descansar relativamente bem, seja recostando a cabeça, procurando a posição mais confortável, seja utilizando dois assentos e improvisando uma cama. Eu enfiava-me no meu inestimável saco-cama e optava sistematicamente por esta última, mas, claro está, se o titular do bilhete onde os meus pés descansavam entrasse a meio da noite, a probabilidade de eles mudarem de posição era assaz considerável.

A vida a bordo do comboio... posando para a fotografia.
Recordo-me de, numa das noites, ter dormido no chão, no espaço entre duas filas de assentos, entre a estrutura metálica. Soa estranho? Bem, é o local onde a trepidação do comboio é menor e a posição horizontal permite algum descanso ao corpo. Para mim, essas horas surgiram como um maná dos deuses, pois o comboio estava apinhado de gente nessa noite em particular, e não havia posição que pudesse proporcionar algum conforto, sem ser essa. Adiante.

Paisagem do norte da Suécia. Muitos lagos, criando uma notável harmonia com as montanhas envolventes. Creio que faz parte de um Parque Nacional, deve ser um sítio fantástico para fugir do bulício da vida stressante das cidades modernas. A única forma de entrar no norte da Noruega é via Suécia, pois é uma zona muito montanhosa e sem ligação por estrada ou linha férrea do lado sul.
Cedo pela manhã, aproveitei os primeiros raios de sol para vislumbrar a imensidão das florestas escandinavas. Devo dizer que fiquei um pouco desapontado. Se bem que parte da floresta seja quase tundra, a dimensão reduzida da maioria das árvores deixou-me um pouco nostálgico de tempos passados, onde a indústria da celulose e a avidez humana pelo lucro fácil ainda não ditavam leis como o fazem hoje em dia. Ainda assim, vi alguns alces e alguns veados. Lobos e renas, nem por isso, talvez por, mesmo aqui, serem espécies ameaçadas e confinadas a alguns parques remotos, onde equipas de televisão se deslocam esporadicamente para alimentar essa mesma nostalgia de tempos passados, onde os animais vagueavam livres pela floresta...
As árvores esbatidas na distância, teimosamente fugindo do meu olhar, sem nunca se deixarem apanhar, fizeram-me regressar à realidade, lembrando-me da minha efémera condição de passageiro. Quando passamos tanto tempo num comboio, às vezes é fácil esquecermo-nos que de facto somos setas em movimento.

Junto à fronteira norte Suécia / Noruega, na parte sueca. Mesmo em Agosto, é possível observar alguma neve nas montanhas, alimentando as muitas cascatas que serpenteiam pelas encostas abaixo.
A paisagem do norte da Escandinávia, junto à fronteira entre a Noruega e a Suécia, foi das mais bonitas com que me deparei durante a viagem. Muitas quedas de água, muitos lagos, numa perfeita harmonia com a natureza envolvente, o recortado das montanhas na distância. Mesmo em Agosto, alguns dos cumes mostravam ainda alguma neve. Encontrei muitos amantes da natureza nestas paragens. Munidos de tenda, mochila e bicicleta, iam saindo um após outro, sempre que nos aproximávamos de algum parque ou lago mais soalheiro. Os comboios encontram-se preparados para transportar as bicicletas e existe um grande vagão onde estas são transportadas.

Junto à fronteira entre a Suécia e a Noruega, do lado sueco. De realçar o padrão de cor das casas, na maioria de madeira e tonalidade ocre, com telhados inclinados (para não acumularem muita neve) e de tom acinzentado.
Gostei muito de ver, mesmo junto à fronteira, numa zona muito pedregosa, as típicas casas de madeira escandinavas, pintadas de vermelho, na sua maioria, o telhado acinzentado inclinado e, em cada casa, um grande mastro de bandeira com a respectiva bandeira ondulando ao vento. Consoante a nacionalidade dos moradores, tanto poderia ser azul e encarnada como amarela e azul, fazendo um enquadramento muito agradável com a paisagem circundante e muito bonito de observar.
Após uma longa e esgotante viagem, cheguei então finalmente a Narvik. Situada já no interior do círculo polar árctico, dista umas centenas de quilómetros acima de Rovaniemi, na Finlândia, onde estive no ano passado e que marca o seu início. É uma pequena e pitoresca cidade do norte da Noruega, que irei descrever um pouco melhor na próxima crónica.

A chegada a Narvik. Aspecto da estação de comboios... um pouco parecido com o fim do mundo, sim (o:
[ I: de viagem para Paris | II: Paris | III: Amesterdão | IV: Haia | V: através da Escandinávia ]

Texto e fotos de Pedro Bicho

À noite no museu

O conceito já não é novo, mas em Portugal começa agora a dar os primeiros passos. Ao princípio, parece estranho: num sábado à noite, em vez do «'bora pròs copos», um «bute lá ao museu».
A minha primeira vez foi em Julho, durante o 41º Festival de Música e Dança de Sintra. Durante o intervalo do espectáculo Daqui em diante, da Companhia Olga Roriz, abriram-se as portas de ligação do Centro Cultural Olga Cadaval com o Museu de Arte Moderna, de modo a que o público pudesse visitar a exposição de arte contemporânea que então aí se apresentava (já agora, por que é que o Museu de Arte Moderna de Sintra não tem um site de jeito?). Fiquei fascinada com a experiência de entrar, quase sozinha, num museu quase abandonado, com obras a chamarem-me de todos os lados.
No sábado passado, dia 16 de Dezembro, foi a vez de o Museu Nacional de Arte Antiga abrir as portas, a partir das 21h00, para uma iniciativa a que chamou "Natal em Arte Antiga". 11 pontos de interesse, entre presépios, retábulos e outras atracções natalícias, foram alvo de visitas guiadas pelos funcionários do serviço educativo do museu. E dois momentos musicais, uma curta-metragem e uma ceia de Natal, a que não faltaram o bolo-rei, as rabanadas, as filhós e os sonhos, acompanhados por chocolate quente. Tudo de graça, ainda por cima!
O povo, de todas as idades, acorreu em peso (um inferno para estacionar nas Janelas Verdes!) e acotovelava-se em torno dos guias e das obras: as figuras de presépio de Barros Laborão e Machado de Castro, os retábulos atribuídos a Gregório Lopes, as caminhas do Menino Jesus, as esculturas medievais. E ainda a exposição "Frei Carlos e o belo portátil", que veio substituir a da Colecção Rau, que visitei em Maio, enquanto andava a fotografar vacas por aquelas bandas.
Contra as nossas especulações em relação a um patrocínio da Toshiba, o portátil referia-se a pinturas religiosas de pequenas dimensões, e por isso facilmente transportáveis (bom, o princípio é o mesmo). No caso, a pequena exposição gira em torno da mais recente aquisição do museu, um Ecce Homo, ou Senhor da Cana Verde, de Frei Carlos, um mestre luso-flamengo que professou em Évora, em 1517, no Mosteiro do Espinheiro, onde instituiu uma oficina. Em exposição, a dita pintura, acompanhada de fotografias de infravermelhos e raio-x da mesma, com as respectivas explicações, mais algumas obras do mestre e outras, dentro do mesmo género, de outros artistas da época.
Fugindo ao pelotão, ainda podíamos aventurar-nos por algumas das salas abertas e espreitar outras peças do museu, como os Painéis de S. Vicente, que todo o bom português deve admirar, de vez em quando, e as esculturas e cerâmicas de Andrea della Robbia.
Espero que a iniciativa tenha continuidade e se generalize.


Frei Carlos, Ecce Homo, c. 1520-1530
Óleo sobre madeira de carvalho, 39,5 x 31 cm
Lisboa, Museu Nacional de Arte Antiga

Book Cell

Como não há uma, nem duas, sem três, outra proposta interessante, na Gulbenkian, desta vez no edifício do Centro de Arte Moderna, mais precisamente no hall, entre a livraria e o restaurante, num lugar de passagem, uma obra através da qual se passa, e pela qual eu passo sempre que por lá passo.
Book Cell é uma instalação do eslovaco Matej Krén. Consiste numa estrutura, em forma de prisma hexagonal, constituída por milhares de livros das edições da Fundação Calouste Gulbenkian, dentro da qual somos projectados, por um jogo de espelhos, para uma vertigem de infinito.
Já só até 31 de Dezembro.




Matej Krén (1958), Book Cell, 2006

Mundos de Sonho

De 26 de Outubro de 2006 a 7 de Janeiro de 2007, na Sala de Exposições Temporárias do Museu Calouste Gulbenkian, uma selecção de cerca de cem gravuras japonesas modernas, das cerca de 4500 estampas e pinturas da colecção Robert O. Muller, da Arthur M. Sackler Gallery, Smithsonian Institution de Washington.
Foi o empenho do coleccionador que garantiu o reconhecimento público das estampas Shin-hanga (nova gravura), que misturavam o apuramento técnico clássico com temas modernos, que revelavam a crescente abertura do Japão ao Ocidente.
As obras seleccionadas enquadram-se em temáticas relacionadas com o teatro Kabuki, a representação da beleza feminina, os valores da luz no tratamento das paisagens e o mundo natural, apreendido quer através de animais e plantas reais, quer através de seres imaginários.
A exposição realça os delicados processos envolvidos na composição da gravura, no que diz respeito à cor, à textura e aos materiais.
A não perder.

[Minisite da exposição]


Toyohara Kunichika (1835-1900), Ichikawa Sadanji I no papel de Akiyama Kii-no-kami
- A cena das chamas
, 1894
Da série «Novas peças de teatro dos Meiji-za» (Meiji-za shinkyōgen)
Gravura sobre madeira; tinta e pigmentos sobre papel, 36 x 71,8 cm



Natori Shunsen (1886-1960), Ichikawa Ennosuke no papel de Kakudyū, 1927
Da série «Colecção de retratos de actores por Shunsen» (Shunsen nigao shū)
Gravura sobre madeira; tinta e pigmentos sobre papel, 37,6 x 25,7 cm



Kobayakawa Kiyoshi (1897-1948), Embriagada, 1930
Da série «Estilos modernos de mulheres» (Kindai jiseshō no uchi yon)
Gravura sobre madeira; tinta e pigmentos sobre papel, 45,7 x 29,6 cm



Itō Shinsui (1898-1972), Rapariga arranjando o cabelo, 1921
Gravura sobre madeira; tinta e pigmentos sobre papel, 43 x 26,2 cm



Hashiguchi Goyō (1880-1921), Chuva no vale Yabakei, Kyushu, 1918
Gravura sobre madeira; tinta e pigmentos sobre papel, 37,2 x 50 cm



Kawase Hasui (1883-1957), O grande Portão, Shiba, 1936
Gravura sobre madeira; tinta e pigmentos sobre papel, 32 x 22,7 cm



Uehara Konen (1878-1940), Dōtonbori, Osaka, 1928
Gravura sobre madeira; tinta e pigmentos sobre papel, 36,4 x 24 cm



Ogata Gekkō (1859-1920), Corvo em ramo de ameixeira, 1899
Da série «Doze estampas 'pássaro e flor'»
Gravura sobre madeira; tinta e pigmentos sobre papel, 24 x 31,5 cm

Metonímias (II)

Passeios de Verão na minha terra (38:45:32N, 9:14:00W ou 38.7589, -9.2333, em graus decimais).











E, a estrear, um formato novo, no novo Blogger beta, com novas potencialidades, como a nova classificação dos posts e uma nova organização dos arquivos. Tantas novidades são para gerir com calma, que eu não vivo só para isto, e, por muito que me alicie, a segunda edição do XHTML 1.0, uma reformulação do HTML 4 em XML 1.0, está a dar-me cabo do juízo.

Roald Amundsen


Roald Amundsen

Roald Engelbregt Gravning Amundsen nasceu a 16 de Julho de 1872 e faleceu a 18 de Junho de 1928, numa queda de avião no Oceano Árctico (o avião no qual se deslocava nunca foi encontrado). Oriundo de uma família de proprietários de navio e capitães, foi o explorador norueguês que liderou a primeira expedição antárctica - 1911/1912 - que atingiu o Pólo Sul.


Amundsen no Pólo Sul

Entre 1897 e 1899, Amundsen junta-se à Expedição Antárctica Belga, liderada por Adrien de Gerlache, sendo o navio Belgica o primeiro a passar o Inverno na Antárctida.
Em 1903, Amundsen comanda a primeira expedição a atravessar a passagem Noroeste, entre o Atlântico e o Oceano Pacífico. Durante este tempo, o povo local (Netsilik) foi o seu principal objecto de estudo. A partir deste estudo, Amundsen aprendeu várias técnicas de sobrevivência no Árctico, adequando assim o vestuário. Aprendeu, também, a usar cães de trenó. Em 1905, Amundsen envia a sua primeira mensagem de sucesso.


No Pólo Sul

Amundsen sempre sonhou ser o primeiro navegador a chegar ao Pólo Norte, o que não chegou a acontecer, pois Frederick Cook e Robert Peary chegaram lá primeiro. Como tal, Amundsen mudou os seus planos e, em 1910, competindo com o seu rival Robert Scott, parte para a Antárctida, no navio Fram, com vista ao alcance do Pólo Sul, ficando num local conhecido como a Baía das Baleias.
Em 1911, Amundsen iniciou a sua expedição para o Pólo Sul, ao qual chega a 14 de Dezembro de 1911, 35 dias antes de Scott, mas o seu sucesso só foi publicamente anunciado a 7 de Março de 1912. A sua história é narrada no livro O Pólo Sul, publicado em 1912.


O navio Fram na Antárctida

Trabalho de pesquisa e síntese de Teresa Nogueira.

Fontes:
"Fram". Wikipedia (en).
"Roald Amundsen". Wikipedia (en).
"Roald Amundsen". Wikipédia (pt).

Metonímias (I)











Atsuko Arai, Amazonas, Berlín, Houston, Siberia, Suiza,
da série La vuelta al mundo en Madrid, 2002
Fotografia, impressão digital, 90 x 60 cm
Madrid, Galería Moriarty.

Exit #19 - Viajes, Madrid: Olivares y Asociados, Agosto 2005 / Octubre 2005, pp. 164, 165, 167.

Lucky Luke



Desenho de Morris, texto de Goscinny, Lucky Luke: Calamity Jane, Dargaud, 1967
(edição portuguesa: Lisboa: Meribérica/Liber, 1990, p. 46).

Sobre As Cidades Invisíveis

Italo Calvino nasceu em Santiago de Las Vegas (Cuba), a 15 de Outubro de 1923, filho de pais italianos, que regressaram à Itália após o seu nascimento.
Durante a juventude foi forçado a integrar uma organização fascista chamada "Avanguardisti", participando na ocupação da Riviera Francesa.
Mudou-se para Turim, em 1941, e formou-se em Letras pela Universidade dessa cidade. Em 1943, participou no movimento anti-fascismo, alistando-se na Resistência Italiana, na Brigada Garibaldi. Foi um dos criadores do MUL (Movimento Universitário Liberal). Mais tarde, tornou-se membro do Partido Comunista Italiano, o qual abandonou em 1957, aquando da insurreição húngara. A sua carta de renúncia ficou famosa, bem como os relatos que escreveu aquando da sua visita à União Soviética.
Escreveu para diversos jornais e revistas entre os quais L'Unità, Il Politecnico, Rinascita (revista comunista), Il Contemporaneo (um jornal semanal marxista) e Italia Domani. Trabalhou na editora Einaudi como responsável por volumes literários.
Teve um contacto frequente com o mundo académico, nomeadamente na Universidade de Sorbonne (na qual conheceu Roland Barthes) e na Universidade de Urbino. Deslocou-se a várias cidades do mundo para dar palestras e recebeu inúmeros prémios, como a "Légion d'Honneur", em França, e o "Austrian State Prize for European Literature". Foi ainda feito membro honorário da Academia Americana.
Em 1985, Calvino faleceu em Sienna, no hospital de Santa Maria della Scala, vítima de acidente vascular cerebral.


Italo Calvino (foto de Denis Gibier)

Italo Calvino é considerado um dos escritores mais notáveis do século XX, contando-se entre as suas obras O Atalho dos Ninhos de Aranha (1947), Fábulas Italianas (1956), uma trilogia denominada Os Nossos Antepassados, constituída por O Visconde Cortado ao Meio (1952), O Barão Trepador (1957) e O Cavaleiro Inexistente (1959). É ainda de ressalvar as obras Amores Difíceis (1970) e As Cidades Invisíveis (1972). Este livro explora os limites da imaginação, através da descrição de cidades que é feita pelo narrador, o viajante italiano Marco Polo, nas suas conversas com Kublai Khan, Imperador da Mongólia. Discutem-se nesta obra uma grande variedade de tópicos, como a linguística e a condição humana.


Marco Polo

Marco Polo nasceu em Veneza, em 1254.
Em 1259, o pai de Marco Polo, que era comerciante, organizou uma expedição para buscar seda, pérolas, pedras preciosas e especiarias. Foi então que Marco Polo começou a sonhar com viagens pelo mundo.
Tinha apenas cinco anos quando o pai partiu nessa expedição, que durou cerca de 12 anos. Todos pensavam que o pai de Marco Polo tinha morrido e a mãe dele morreu de tristeza, achando que o marido estava morto. Mas, quando Marco Polo tinha quinze anos, o pai voltou com a promessa que o levaria na próxima viagem, que veio a concretizar-se em 1271.
Juntamente com o seu pai, Nicolau Polo, e o seu tio, Maffeo, Marco Polo foi um dos primeiros ocidentais a percorrer a rota da Seda. Dirigiram-se à corte do rei mongol Kublai Khan e, a seu serviço, percorreram a Tartária, a China e a Indochina.
Depois de regressarem a Veneza, por volta de 1295, Marco comandou um grupo na guerra contra Génova, acabando por ficar prisioneiro, em 1298. Durante o cativeiro, ditou as suas aventuras de viagem a outro prisioneiro, chamado Rusticiano de Pisa, acabando estas por serem traduzidas para latim, em 1315, pelo frei Francisco Pipino.
O relato detalhado das suas viagens pelo Oriente, incluindo a China, foi durante muito tempo uma das poucas informações sobre a Ásia no Ocidente. A primeira tradução em português só foi impressa em 1502.
Em 1300, quando completou 46 anos, Marco Polo voltou para Veneza. Um anos depois casou-se com Donata com quem teve três filhas.
Marco Polo morreu em sua casa, em Janeiro de 1324, com quase 70 anos, sendo enterrado na Igreja de San Lorenzo.


Kublai Khan

Kublai Khan (23 de Setembro de 1215 - 18 de Fevereiro de 1294) foi o conquistador mongol responsável pela dominação total e reunificação da China, fundando a Dinastia Yuan. Kublai mostrou-se um administrador capaz para os padrões mongóis, mas insuficiente para os padrões chineses. Desde a juventude fora treinado nas artes da guerra, cresceu adquirindo modos e gostos chineses. Ao contrário dos tradicionais líderes tribais mongóis, Kublai era culto, alfabetizado, e moldava-se com facilidade aos métodos estrangeiros, o que o tornou um político tão hábil como guerreiro.
Com o passar do tempo, Kublai procurou estimular políticas que esbarraram na total inexperiência dos mongóis e a sua ineficiência era vista com maus olhos pelos chineses. Apesar da rejeição popular, Kublai via-se um legítimo chinês e considerava-se como "um filho do céu".
A opulência de Kublai e da sua corte impressionou o jovem italiano Marco Polo, que foi contratado por Kublai, por 17 anos, como embaixador do império e que lhe relatou tudo o que vira. As histórias de Marco Polo trouxeram à Europa os relatos mais ricos da nação mais avançada do mundo na época.
A pressão interna na China aumentava, provocada pelo descontentamento dos chineses conquistados, que exigiam a eleição de um novo Cã. Kublai foi assim forçado a desviar a atenção dos problemas económicos e procurou expandir a sua esfera de influência. Sempre olhara para o Japão como uma possível fonte de riqueza e para os japoneses como um povo atrasado, fácil de ser conquistado. Em 1274, lançou ao mar numerosos navios chineses e arqueiros mongóis, mas a missão foi um fracasso, devido ao tufão que se abateu sobre o mar do Japão, a que os japoneses chamaram Kamikase, "vento divino", pois livrara-os de uma invasão.
Kublai morreu em 1294, aos 79 anos, e apesar das desventuras ficou conhecido por feitos notáveis, como a reabertura e a reforma das rotas comerciais em direcção à China e das vias de comunicação interna, além da própria reunificação do Império.


Marco Polo na corte de Kublai Khan

Trabalhos de pesquisa e síntese de, respectivamente, Paula Gouveia, Magali Sophie Pinto e Andreia Ascenção.

Fontes:
"Invisible Cities". Wikipedia (en).
"Italo Calvino". Wikipedia (en).
"Kublai Khan". Wikipedia (en).
"Kublai Khan". Wikipédia (pt).
"Marco Polo". Diciopédia, CD-ROM, Porto: Porto Editora [s.d.].
"Marco Polo". Wikipedia (en).
"Marco Polo". Wikipédia (pt).

Alguns textos de As Cidades Invisíveis:
[ As cidades e a memória. 1. | As cidades e o nome. 4. | As cidades e os sinais. 1. ]

Amadeo na Gulbenkian

"Diálogo de Vanguardas" (ou "Diálogos de Vanguarda", como, curiosamente, surge em alguma documentação alusiva ao evento) é uma grande exposição da obra de Amadeo de Souza-Cardoso, cruzada com a de 36 artistas internacionais seus contemporâneos, num total de cerca de 260 obras.
Amadeo de Souza-Cardoso (1887-1918) viveu em Paris, entre 1906 e 1914, período durante o qual produziu uma parte significativa da sua obra, a que se referia nos seguintes termos:

«Eu não sigo escola alguma. As escolas morreram. Nós, os novos, só procuramos agora a originalidade. Sou impressionista, cubista, futurista, abstraccionista? De tudo um pouco» (entrevista ao jornal O Dia, 04/12/1916).
Variou freneticamente entre escolas e técnicas diferentes e deixou obra considerável, apesar da sua morte prematura.
Visitei a exposição no sábado passado, de manhã, felizmente, porque à tarde mal se podia entrar. Está patente no edifício sede da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, até 14 de Janeiro de 2007 (15, segundo alguma documentação). Quem a visitar a partir deste fim-de-semana pode sempre aproveitar e dar uma volta pela Festa dos Livros, que o Natal está mesmo aí.


Desenho (Três Nus Femininos), 1910
Grafite sobre papel, 33,5 x 26,5 cm
Lisboa, Colecção CAMJAP/FCG



Os Galgos, c. 1911
Óleo sobre tela, 100 x 73 cm
Lisboa, Colecção CAMJAP/FCG



Le Bain des Sorcières, c. 1911-1912
(Desenho original para o álbum XX Dessins, 1912)
Tinta-da-china sobre papel, 32 x 25 cm
Lisboa, Colecção CAMJAP/FCG



Avant la Corrida, c. 1912
Óleo sobre tela
Lisboa, Colecção CAMJAP/FCG



Arvoredo, c. 1912
Óleo sobre cartão, 34 x 27,5 cm
Lisboa, Colecção CAMJAP/FCG



Procissão Corpus Christi, 1913
Óleo sobre madeira, 29 x 50,8 cm
Lisboa, Colecção CAMJAP/FCG



Oceano Vermelhão Azul (Continuidades Simbólicas)
Rouge Bleu Vert
, c. 1915
Aguarela sobre papel, 25,2 x 19 cm
Lisboa, Colecção CAMJAP/FCG



Pintura (Brut 300 TSF), c. 1917
Óleo sobre tela, 86 x 66 cm
Lisboa, Colecção CAMJAP/FCG

Balão sobe

 
 
 
 
 
 

10º Festival Internacional de Balões de Ar Quente do Norte Alentejano
5-12 Novembro 2006
Organização Publibalão


Dia 8, de manhã cedo, em Fronteira. Montar o equipamento, encher os balões, embarcar e levantar voo.
Acompanhámos uma equipa belga, a participar neste festival pela décima vez. Havia cerca de 30 balões no evento: algumas equipas portuguesas, em maior número espanholas, francesas, belgas, holandesas, britânicas e uma australiana.
As equipas desdobram-se em duas frentes: a do ar e a do suporte terrestre. No nosso balão, que tinha um cesto razoavelmente grande, éramos cinco a bordo, mais três botijas de propano. A equipa 5, com um cesto mais pequeno, levava três pessoas; o balão vermelho e branco não tinha cesto: tinha um único tripulante, sentado numa cadeira, sobre duas botijas.
O piloto controla tudo: as descargas de gás, que regulam o aquecimento do ar e, consequentemente, a altitude; as cordas do leme, o GPS e o contacto de voz com o solo.
No primeiro impulso, subimos até uma altitude de cerca de 1000 metros, atravessando as nuvens. Ao contrário do que sucede dentro de um avião, num balão estamos directamente expostos às condições climatéricas: sentimos nitidamente a humidade fria das nuvens, a pressão nos ouvidos, a deslocação do ar, o silêncio, o cheiro do propano queimado, o calor directo do sol e o da chama sobre a cabeça.
Depois descemos até uma altitude mais aceitável, que variava entre os 400 e os 250 metros, a uma velocidade de cruzeiro de 9 nós, aproximadamente 18 km/h. O nosso piloto disse-nos que já chegou a atingir os 60 km/h, tudo depende do vento (um balão pode até ser muito mais veloz).
A manhã estava bonita, quente, com pouco vento, mas, pelo menos, tinha parado de chover. Tínhamos as melhores condições desde o início do festival: apesar de não se poderem atingir grandes velocidades, não havia turbulência e a viagem foi muito agradável.
Estivemos cerca de uma hora e meia no ar, a observar, em baixo, os campos molhados, as ribeiras que corriam furiosas e os outros balões, que coloriam os ares. A cada descida, eram os cães que ladravam à nossa proximidade, as ovelhas que se agrupavam em rebanho e fugiam, as galinhas das quintas que esvoaçavam espavoridas.
Andámos ainda algum tempo a rasar oliveiras, carregadinhas de azeitona preta, e azinheiras, à procura de um bom local para aterrar (e, consequentemente, a aterrorizar a fauna local). Os campos estavam demasiado enlameados e não nos queríamos atascar. Por outro lado, um bom local de aterragem tem de ser plano, limpo de árvores e próximo de uma estrada, de modo a que a equipa terrestre nos possa alcançar facilmente, minimizando assim o esforço no transporte do equipamento para o carro. O melhor que encontrámos ainda ficou a uns 20 metros da estrada, perto de Ervedal.
A aterragem é mais violenta que a de um avião: agarramo-nos às cordas internas do cesto, flectimos os joelhos e preparamo-nos para o impacto e para tombar para o lado, porque o equipamento termina exactamente na mesma posição do início.
Depois é sair e começar a desmontar o material. O balão tem de ser esvaziado, enrolado e enfiado dentro de um saco enorme. De vez em quando, sentamo-nos todos em cima dele, como num pufe, para expulsar os restos de ar. É um trabalho de equipa muito divertido. O saco fica muito pesado, com aquelas dezenas de metros quadrados de tecido, e são precisas seis pessoas para o conseguirem transportar, uma a pegar em cada alça. O cesto, de madeira e vime, também é muito pesado. Pelo menos as botijas chegam vazias.
Depois de tudo carregado no atrelado, uma pausa para descansar e contar histórias, ao som de sandes mistas e cervejas, que os belgas não fazem a coisa por menos. E depois voltar, por estrada, ao local de onde partimos.
Foi uma experiência fantástica, e o condimento imprescindível para sobreviver a uma semana de trabalho alucinante. Agora já sei: para o ano há mais, em Novembro, entre Cabeço de Vide, Fronteira, Sousel, Crato e Alter do Chão. É só olhar para cima. Ou melhor, novamente para baixo.