Maternidade


Portalegre, Maio de 2015

Estavam assim, ontem, as minhas macieiras. No início, eram dois caroços germinados, encontrados numa maçã vermelha saborosa que comi tão depressa que nem tive tempo para fotografar (não costumo fotografar o que como), mas cuja etiqueta identificava a variedade como Flavor Rose. Eram iguais a estes, que encontrei dias depois, noutro fruto do mesmo lote, e que enfiei no vaso da hortelã:



No dia 23, estavam assim:



No dia 28, já tinham crescido mais um bocadinho:



Gosto de semear árvores, mais do que plantá-las. Gosto de enterrar caroços e ficar à espera que algo brote da terra (os do vaso da hortelã estão quase a rebentar). Gosto de ver as primeiras folhas, informes, e as seguintes, a mostrarem gradualmente ao que vêm.
Foi assim, há muitos anos, com uma nespereira que acabou por morrer sufocada num vaso demasiado pequeno. Foi assim, também, com os abacateiros e as nespereiras do vaso da lúcia-lima. A estes, enviei-os para o monte, onde um homem de enxada em punho lhes há-de ter arranjado poiso onde crescer. Há-de ser assim com as macieiras, se resistirem até lá: um dia, não hão-de caber no vaso, hão-de querer espaço e liberdade. Eu dar-lhes-ei a minha bênção e ficarei a vê-las partir, com o coração apertado. Um dia, pegarei nas minhas tamanquinhas e irei visitá-las, saber se têm comido bem, se se têm resguardado do frio e quando pensam dar-me netos.

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