Balada do vento



Não gosto de aerogeradores, aquelas ventoinhas gigantescas que nos rasgam as paisagens e estreitam o horizonte. São uma espécie invasora que, mal damos por isso, se instala à nossa volta sem pedir licença.
Vi desfear a costa de Torres Vedras e os altos do Douro, vi campos deles, a perder de vista, nos mares da Dinamarca. Não há hoje uma elevação para onde olhemos sem encontrar, pelo menos, um. Até já a paisagem protegida da Serra de São Mamede viu o arvoredo esventrado pelas obras para instalação de quatro.
Sempre que vejo um, dá-me ganas quixotescas de investir contra ele. Mas quando me aproximo, quando contemplo aquela imensidão vertical, direita ao céu, o rodar ritmado das pás, o silvo embalador do vento, só desejo aninhar-me, enroscar-me à sua sombra e dormir como um bicho da terra.


Serra de São Mamede, Portalegre, Maio de 2015

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