The wall


Belfast (Irlanda do Norte, Reino Unido), Dezembro de 2005

As nossas colegas não nos levaram a ver os murais políticos, mas não puderam impedir-nos de ver o muro. O Muro de Belfast, eufemisticamente chamado Linhas de Paz, constituiu, em toda a sua extensa fealdade, um murro no estômago de quem acreditava que, após a queda do Muro de Berlim, estes vestígios bélicos não tinham lugar na Europa da prosperidade e da mobilidade. A minha colega psicóloga ainda tentou argumentar que as barreiras psicológicas são mais graves, mas as palavras dela pareceram-me muito insignificantes, face àquela extensão absurda de betão e lata, portões e arame farpado. Não há argumentos que resistam ao carácter físico de um muro que exibe a sua força.
As barreiras psicológicas também lá estavam, claro, encarnadas nas casas de costas voltadas: católicos e protestantes não se queriam nem ver, transitavam em ruas diferentes e preferiam a vista do muro, nas janelas das traseiras.
Disseram-nos que era melhor assim, para conter ânimos mais exaltados, sobretudo em dias de festa e de muita bebida, quando os portões tinham de ser fechados, antes que descambasse tudo num morticínio.
Eles lá saberão, quem sou eu para ajuizar, mas a verdade é que perdi, nesse dia, grande parte da ingenuidade que ainda tinha sobre o projecto europeu.















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